quarta-feira, 22 de março de 2023

Pseudociências nas Faculdades de Psicologia no Brasil: Falta de Interesse e Necessidade de Intervenções

O ensino de pseudociências nas faculdades de Psicologia no Brasil é uma preocupação crescente para profissionais, acadêmicos e estudantes da área. Este fenômeno não só afeta a qualidade da formação de futuros psicólogos, mas também a percepção pública da Psicologia como uma ciência rigorosa e baseada em evidências. Neste texto, analiso a persistência do ensino de pseudociências nas instituições de ensino superior brasileiras e a falta de interesse dessas instituições em atualizar seus currículos de maneira ética. Além disso, discutiremos as responsabilidades dos estudantes e proporemos intervenções para combater esse problema.

Pseudociências são teorias ou práticas que se apresentam como científicas, mas que não possuem fundamentação empírica, metodologia rigorosa ou validação por pares (Shermer, 1997). No contexto da Psicologia, algumas teorias, como a Programação Neurolinguística (PNL) e a Psicanálise, podem ser consideradas pseudociências.

A presença de pseudociências no ensino da psicologia pode ser atribuída a várias causas, entre elas: falta de rigor científico, interesses comerciais e inércia acadêmica (Lilienfeld et al., 2012). Por exemplo, muitas instituições de ensino ainda oferecem cursos baseados em teorias obsoletas ou refutadas, como a Grafologia e a Hipnose Ericksoniana, sem fornecer a seus alunos a devida contextualização histórica e científica (Benuto, 2015).

As instituições de ensino têm a responsabilidade ética de fornecer um ensino atualizado e baseado em evidências, mas muitas vezes não investem em treinamento e atualização do seu corpo técnico e de seus professores. Isso resulta em um ensino desatualizado e, em alguns casos, a promoção de pseudociências. Além disso, é necessário um controle mais rigoroso por parte dos órgãos reguladores do ensino superior, como o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP), no que se refere à qualidade dos cursos oferecidos.

A responsabilidade, no entanto, não recai apenas sobre as instituições. Os estudantes de Psicologia também têm a responsabilidade de buscar conhecimento científico e desenvolver habilidades críticas para discernir entre teorias válidas e pseudociências. Eles devem se engajar ativamente em seu processo educacional, buscando atualizações e conhecimento de fontes confiáveis.


Intervenções sugeridas:

  1. Revisão curricular: As instituições de ensino devem rever periodicamente seus currículos, eliminando conteúdos pseudocientíficos e atualizando os cursos com base nas melhores práticas e evidências científicas.
  2. Capacitação docente: As faculdades devem investir na formação continuada de seus professores, incentivando a participação em eventos científicos e cursos de atualização.
  3. Fiscalização dos órgãos reguladores: O MEC e o CFP devem exercer maior fiscalização na qualidade dos cursos de Psicologia, assegurando que sejam baseados em evidências científicas e de acordo com as diretrizes éticas e profissionais.
  4. Educação para o pensamento crítico: Os estudantes devem ser estimulados a desenvolver habilidades de pensamento crítico e avaliação de evidências, a fim de discernir entre teorias válidas e pseudociências.
  5. Fomentar a pesquisa: As instituições de ensino devem incentivar a realização de pesquisas científicas de qualidade, promovendo o diálogo entre a teoria e a prática e possibilitando o avanço do conhecimento na área da Psicologia.
  6. Inclusão de tópicos sobre pseudociências nos currículos: As faculdades podem incluir tópicos específicos sobre pseudociências nos currículos, visando fornecer aos estudantes as ferramentas necessárias para identificar e combater práticas não embasadas cientificamente.

A persistência do ensino de pseudociências nas faculdades de Psicologia no Brasil é um problema que demanda a atenção e o engajamento tanto das instituições de ensino quanto dos estudantes. A promoção de um ensino de qualidade, baseado em evidências e atualizado, é fundamental para garantir a formação de profissionais competentes e a consolidação da Psicologia como ciência. Através de intervenções eficazes e comprometimento ético, é possível combater a proliferação de pseudociências e contribuir para um ensino superior de excelência na área da Psicologia.



Referências:

Benuto, L. T. (2015). Pseudoscience in psychology. In S. O. Lilienfeld, J. Ruscio, & S. J. Lynn (Eds.), Psychological science under scrutiny: Recent challenges and proposed solutions (pp. 47-62). John Wiley & Sons.

Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., & Lohr, J. M. (2012). Science and pseudoscience in clinical psychology (2nd ed.). Guilford Press.

Shermer, M. (1997). Why people believe weird things: Pseudoscience, superstition, and other confusions of our time. Henry Holt and Company.

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