Eu me lembro que foi em uma quinta-feira com seus 39 graus, e eu estava caminhando em direção à faculdade com o entusiasmo de alguém que está prestes a extrair os próprios dentes. Aquele era o dia mais temido da minha vida academica: minha primeira aula de psicanálise. Como alguém que tem horror a Freud, eu sabia que essa experiência seria, no mínimo, dolorosa.
Eu já tinha lido bastante sobre Freud, mas nunca havia estudado em conjunto, e aí estava eu, prestes a enfrentar o monstro de perto. Sentando-me na sala suado e com o coração na boca, me preparei para ouvir os conceitos freudianos que tanto detestava.
A professora entrou na sala e, devo dizer, ela era encantadora. Loira, jovem e linda - o tipo de pessoa que a vida sempre parece abençoar com privilégios, como se sua beleza da Disney fosse um passe livre para o sucesso. Se alguém pudesse me convencer a aceitar a psicanálise, essa pessoa seria ela, mas eu sabia que haveria luta e seria árdua.
Logo, a aula começou a tomar a forma de uma sessão coletiva de (pseudo)terapia muito louca, onde todos falavam sobre suas vidas como se estivessem compartilhando suas fantasias inconscientes mais secretas. Meus colegas pareciam zumbis enfeitiçados, consumidos pela pseudociência freudiana que a professora lhes servia aos montes. Eu observava, cada vez mais confuso e incrédulo, enquanto eles se aprofundavam em teorias arcaicas que mal funcionariam para analisar a mente de um hamster, quanto mais a mente humana.
A cada aula, sentia que estava afundando cada vez mais em um poço de pensamentos questionáveis e teorias sem sentido. Eu me perguntava como uma disciplina tão arcaica ainda estava sendo ensinada, e por que meus colegas estavam tão dispostos a aceitar tudo aquilo sem questionar. Talvez fosse a influência da professora privilegiada, ou talvez fosse a curiosidade mórbida de ver até onde isso iria. Nada disso, eu sabia a resposta, mas deixei pra lá.
Finalmente, o semestre acabou, e eu saí daquela sala com a sensação de ter sobrevivido a um pesadelo freudiano. A psicanálise, pelo menos para mim, tinha se tornado uma mistura de comédia e horror - uma experiência que eu nunca esqueceria, mas também nunca repetiria.
Agora, sempre que reflito sobre aquele semestre, eu me pergunto: será que sobrevivi a um pesadelo orquestrado por um Freud sádico e louco? Imagino Freud, em algum lugar, esboçando um sorriso maléfico ao ver o lado cômico que encontrei na situação, pronto para atacar aqueles que discordam dele. Afinal, como ele mesmo diria, às vezes um charuto é apenas um charuto - e às vezes, uma aula de psicanálise é apenas uma aula de psicanálise, mesmo que pareça um episódio de um filme de terror sobre zumbis enfeitiçados por pseudociência. Saí dessa experiência com uma alma que tive que deixar para trás e um pouco manco, mas, pelo menos, sobrevivi aos caprichos de um Freud enlouquecido e implacável.
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